UM PROJETO DE INSTALAÇÃO COMO PROJETO DE INSTALAÇÃO
Freud fala em algum lugar entre o Totem e o Tabu sobre um macho primitivo poderoso, cuja potência permite, além da dominação sobre os outros machos, (incluindo seus próprios filhos), o monopólio sexual sobre as fêmeas do clã (incluindo as próprias filhas). A forma de escrever de Freud é ela mesma abrupta, prepotente, poderosa e sexualmente atrativa, com sua autoconfiança inabalável em seu heroísmo de desbravador. De pioneiro. De colonizador racionalista do solo irracional do inconsciente. Como a enxada-escrita de Marx, da qual esse autor extrai a Forma e mesmo as palavras para esse comentário, seus textos podem ser acusados de muitas coisas, mas dificilmente do esoterismo intelectual estéril a que costumam ser tachadas teorias como o pós-estruturalismo e adjacências.
Pois bem, os filhos mais fracos matam o Pai singular para poderem garantir, eles também, o intercurso com suas irmãs e – porque não, já que estamos todos comemorando o tiranicídio – com a própria mãe.
Mas nem tudo são rosas abertas no paraíso neandertal e o antigo patriarca ressuscita. Dessa vez, porém, ainda mais terrível e aparentemente indestrutível, ou seja, como Idéia. O parricídio, de meio para se chegar à satisfação dos instintos, se transforma em um Crime, e para todo o Crime (que nada mais é que o atentado contra quem detém o Poder em determinado ponto da História) se institui uma Lei (para proteger quem detém o poder naquele ponto da História). Novos parricídios devem ser evitados. A sociedade se forma sobre essa égide. E a sombra sheakspereana do antigo Rei paira como um pesadelo sobre o cérebro dos vivos para castigar cruelmente, de dentro para fora, os que se deixam levar pelos antigos instintos.
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